sexta-feira, 3 de abril de 2009

Jornalismo: a luz sobre o caos

Por Tatiana de Souza Sabatke

(Uma análise da construção da notícia nos dias de hoje)

Não é novidade para ninguém que o jornalismo não cumpre mais a função social de informar. Agora ele publica tudo da forma mais simplista possível, sem argumento e fontes. Tudo fruto da liberdade de imprensa. Mas essa liberdade tem limite? Até que ponto, temos nós, jornalistas, o direito de sermos os donos do saber? De organizarmos o caos diário em que vive a sociedade? Ah, quem nos dera sermos capazes de editar sem limitar o entendimento do receptor.

Chegamos atrasado ao fato. Não entrevistamos todos os interessados. Fazemos nosso próprio julgamento. Saímos correndo para a redação, ou para cobrir outra pauta. E quando vamos produzir a notícia editamos sem nos preocupar com a compreensão do fato. A nossa profissão falha ao não contextualizar o fato. E quando o contextualiza, faz isso de forma a transformar o “velho” em “novo”. Assim construímos uma realidade falha, algo que não existe, ao menos em parte. E assim nos intitulamos os responsáveis por organizar o dia a dia das pessoas, agendando o que a população vai conversar.

É a partir deste ponto que o jornalista Leão Serva faz uma crítica ao fazer jornalístico com o livro “Jornalismo e desinformação”. Criticando o recorte feito do fato pelo profissional da imprensa, Serva alerta para o perigo de se construir um mundo inventado. Para a falta de ética ao se editar um material pensando no bem do veículo de informação. O autor ressalta o papel do jornalista e sua matéria prima “O jornalismo tem como matéria prima o fato novo, desconhecido, que pode causar surpresa. E que por isso é confuso, incompreensível, caótico. (...) Uma informação só faz sentido quando necessariamente se harmoniza com uma referência anterior do leitor”. SERVA, Leão, p. 49.

Se analisarmos a matéria “Míssil da discórdia pronto para subir” publicada na editoria AN Mundo do Jornal A Notícia de sexta-feira (3/4/2009) vemos um exemplo claro do que Serva mostra em seu livro. Aquela informação só faz sentido para quem conhece os conflitos anteriores e porque há divisão entre Coréia do Sul e do Norte, além de todos os interesses que giram entre Japão e Estados Unidos da América. É fato que tudo isso só interessa para o leitor que já teve alguma experiência com o assunto. Talvez seja esse o motivo pelo qual os jornais buscam cada vez mais regionalizar suas informações. Pois assim os leitores têm mais interesse em saber o que está nos jornais, pois diz respeito ao seu dia a dia.

Outro autor que trabalha esta questão do jornalismo reduzir a informação, desinformando o seu receptor é Francisco José Karam, no livro “Jornalismo, ética e liberdade. Karam aproveita o livro para questionar o processo de construção da notícia. O autor fala do mundo construído pelo jornalista que não se limita ao texto ou a imagem, mais sim aos signos criados por ambas as partes, que jamais conseguirá ser interpretado da mesma forma por jornalista e receptor (que hoje já atuam em conjunto desconstruindo teorias do jornalismo que tratavam o receptor como uma máquina de consumir notícia).

Por este motivo é tão importante que o jornalista contextualize a informação. O fato mostrado no jornal não é o que aconteceu, é uma parte do todo. Uma parte da sociedade que se expõem na mídia como sendo o espaço do conhecimento. O problema é que nem sempre aquilo realmente se transforma em conhecimento. Por não haver a contextualização do fato que no outro dia a notícia já é velha. Ou o jornalista consegue trazê-la como um fato único, como é caso das guerras, que mesmo sendo antigas são apresentadas ao leitor como algo novo.




Referências Bibliográficas

SERVA Leão, Jornalismo e Desinformação. São Paulo, Editora Senac.
KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Sumius, 1997.
Jornal A Notícia - Joinville (SC)

Um comentário:

  1. Belo texto e belo argumento, mas permita-me fazer observações.
    Há duas correntes dentro do jornalismo, a que acha que o leitor tem de ser tratado como burro (é preciso explicar tudo como se fosse para uma criança) e a que defende que o leitor, por ter acesso à informação (e cada vez mais), é um ser com algum grau de inteligência e conhecimento. É um leitor.
    Particularmente, considero a segunda.
    Então há duas formas de avaliar a matéria reproduzida em "AN", e certamente em outros jornais. A primeira é a de que o leitor interessado no mundo já vem acompanhando o assunto. Portanto, já sabe do que se trata. Não precisamos chateá-lo com informações repetidas. A outra é que se formos contextualizar a situação, precisaríamos de duas edições inteiras de um jornal, talvez mais, não é verdade?
    Sobre o regionalismo: é mais do que natural que as pessoas se interessem pelo que está mais perto delas. É da natureza humana que nos emocionemos com quem nos são próximos e não estamos nem aí para os que não conhecemos - salvo casos mais explorados pela mídia. Não acredito que seja porque não houve "informação completa" em assuntos que ocorrem longe dos olhos.
    abs pra vocês
    Cioatto

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