segunda-feira, 8 de junho de 2009

Uma “madrigueira” apaixonada pela música


Um grupo de amigos que costumava se encontrar nos finais de semana e se divertir cantarolando, após um bom churrasco, transformou-se no Madrigal Belas Artes, o grupo musical. Composto por onze amigos que se reúnem todas as sextas-feiras, após às 19 horas para ensaiar suas músicas preferidas, entre elas os clássicos da MPB (música popular brasileira) como “Três Apitos”, do sambista, cantor, compositor, bandolinista e violonista, Noel Rosa.
Entre os “madrigueiros” como gostam de ser chamados, está a jornalista Ana Izabel Magno Ribas Diefenthaeler, 51 anos, dona de uma energia inesgotável, segundo seus companheiros de palco. “As sextas-feiras de Madrigal são uma bênção. Chegamos, às vezes, bem cansados, vindos de uma semana de arrasar, sob o aspecto do trabalho. Então, aquelas feias caras de sexta à noite se transformam, em poucos minutos, em olhares mais que iluminados pelo milagre da música”, conta a cantora.
de uma família musical, onde o avô paterno era um reconhecido maestro em Santa Maria (RS) e hoje é nome de ruas e escolas da cidade. A primeira apresentação musical que Ana Izabel fez foi aos 9 anos, com uma música de Roberto Carlos chamada “História de um homem mau”. “Lembro-me como se fosse hoje, veja só, que estava tão nervosa que tive que parar e puxar o fôlego para cantar o verso final”, relembra ela e repete o verso: “O homem mau... Morreuuuuuuu”. Depois, para ganhar um dinheiro a mais, Ana cantou na noite, durante o período de faculdade.
Sua história musical continua. Na escola os testes vocacionais sempre a dirigiram, em primeiro lugar, para a música. Mas, ela foi estudando e tomando gosto pelo texto, acabou se tornando uma leitora voraz. Aos 12 anos, Ana ganhou uma coleção de Dostoievski e leu todos os livros. Foi assim que acabou estudando jornalismo e não música. “Hoje a música é, para mim, o que deveria ser para todos, uma inesgotável fonte de prazer, de relaxamento, de alegria e realização pessoal”, diz.
Ela lamenta que a questão sobrevivência tenha se colocado sobre sua realidade e seu ideal, pois ao pensar em primeiro lugar na sobrevivência, demorou mais do que deveria para reencontrar a música. Cantar para Ana, é algo que ela faz, às vezes, de forma até inconsciente. O marido dela, também jornalista e um dos integrantes do Madrigal, Guilherme Diefenthaeler, decidiu aprender violão. O casal canta bastante, mesmo fora dos ensaios, principalmente nos encontros familiares que, como Ana diz, são menos frequentes do que ela gostaria, devido à distância geográfica que separa a joinvilense da família no Rio Grande do Sul.
Estudar música “pragmaticamente” é meio complicado para ela. “Eu trago a música na alma, fica difícil traduzi-la em toda a sua grandeza e sensibilidade, em frias notas e compassos”, explica. De todos os etilos musicais, Ana se identifica mais com blues, jazz e bossa nova. Estilos, que em sua opinião, são absolutamente inovadores em seus tempos musicais, porque desconstroem e mostram milhões de diferentes maneiras de dizer o que se quer em infinitas formas de expressão musical.
A cantora do naipe contralto (voz grave feminina) ainda brinca: “Na real, real mesmo, acho que em outra encarnação fui uma daquelas negras norte-americanas de New Orleans”. Olhar para Ana, perceber sua energia em palco e a forma como canta realmente reporta ao que ela explica e vê em si. Ana em palco lembra as negras norte-americanas que começam cantando música gospel nas igrejas batistas e terminam em um vestido sexy, preto, decotado, cheio de lantejoulas, um copo de Bourbon em uma das mãos e a outra descansando na cauda de um piano. Desta forma ela completa a visão que tem de si mesma quando escuta a palavra música: “Um piano maravilhosamente tocado por um negro cego e lindo”.
Ao falar sobre música, ela fala sobre a vida: “Porque cantar, como diz o poeta, parece com não-morrer”. Ana Izabel sente que há um quê de eternidade em quem se entrega à música. Ela não fala dessa eternidade a que se referem as religiões, porque para ela isso é uma questão de fé. Ela fala da eternidade existencial, que a inunda e faz plenos aqueles minutos de uma canção cantada com sua essência.

Madrigal Belas Artes e sua história

O Madrigal Belas Artes é um grupo de cantores que teve início em 2004. Todos os componentes são musicistas ou estudantes de música que procuram desenvolver a plástica e a performance cênica-musical. O repertório escolhido pelo grupo vai do erudito ao popular. Atualmente é composto por onze músicos, sendo apenas dois deles adolescentes: Guilherme do Nascimento (violonista) e Nathan A. Strapazzon (baterista). A direção musical e regência são de Mirtes A.L. Strapazzon e a direção cênica de Ersnt Klipp.
O Madrigal participou de vários eventos, entre eles estão aberturas de vernissagens, festivais, cerimoniais de casamentos, gravação de um CD dos corais de Joinville e em 2008 apresentou o espetáculo “Cantos do Brasil” no galpão da Ajote, na Cidadela Cultural Antártica. O projeto consiste em mostrar um pouco da cultura brasileira através de músicas de determinadas regiões do país, composta por consagrados músicos da MPB como Caetano Veloso, Noel Rosa ou o grupo Expresso Rural que surgiu em 1981 e fez sucesso com a música “Nas manhãs do Sul do Mundo”.
“Cantos do Brasil” foi patrocinado pelo Edital de Apoio às Artes da Fundação Cultural de Joinville no ano passado, modalidade de Canto Coral. O proponente do projeto é Antonio Rodrigues de Melo Junior, um dos tenores do Madrigal.
A regente do grupo diz que um dos objetivos deste ano é a gravação de um DVD do espetáculo Cantos do Brasil e que os planos dos madrigueiros continuam: “Estamos trabalhando no esboço de outro projeto para o próximo ano, ainda com o tema a ser definido”, declara Mirtes. Segundo ela, o maior desafio para o grupo na construção do espetáculo foi adaptar a encenação ao canto, algo não experimentado por eles, antes do espetáculo.
Neste ano o grupo faz aulas de teatro com Ernst Klipp formado em Artes Cênicas na Alemanha e juntos reestruturam “Cantos do Brasil”. Na opinião da regente, o grupo amadureceu muito com relação ao trabalho cênico-musical.


Por Jaqueline de Mello
Legenda foto: Antônio e Ana interpretando canções na Vila Vicentina (lar de idosos).

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