domingo, 31 de maio de 2009

Da cadeira de delegado para o banco dos réus


Um dia de investigador e o outro de investigado

Na segunda feira (25), o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz esteve em Joinville para falar sobre a corrupção no Brasil. Protógenes ficou conhecido por comandar as operações policiais que levaram a prisão do banqueiro Daniel Dantas, dos ex-prefeitos de São Paulo, Celso Pitta e Paulo Maluff e do contrabandista Law Kim Chong.

No mesmo dia, o delegado recebeu a notícia de que a Justiça Federal aceitou a denúncia do Ministério Público Federal contra ele, por vazamento de informações da Operação Satiagraha para a TV Globo e fraude processual. “É abusivo, mantive o MP a par de tudo”, disse. Protógenes afirma que mesmo que tirem dele o direito de investigar, ele jamais desistirá de lutar pela justiça. “Posso deixar de ser delegado, mas nunca vou deixar de ser cidadão e preservar a honestidade”. O delegado que comandou as investigações mais polêmicas da história brasileira, como a Satigraha e a “máfia do apito”, hoje se encontra no “banco dos réus”.

Na palestra que ministrou aos estudantes universitários e militantes dos partidos PDT e PSol que aconteceu na Câmera de Vereadores da cidade, o delegado declarou que não está filiado a nenhum partido, que estes apenas decidiram apoiar sua causa: “A luta contra a corrupção”. Porém, não descarta a possibilidade de disputar as eleições no próximo ano. Afirmou que tem recebido apelos e que simpatiza com o PSol, primeiro partido a apoiá-lo. “Eu nunca participei da vida política. Não sei se vou me sentir bem nesse cenário em que o Brasil vive”. O delegado ainda brinca: “Já pensou eu no Congresso? Ia precisar de um contêiner de algemas”.

Ao discursar sobre as operações policiais que ele realizou e sobre como é “inadmissível as atitudes desonestas de alguns líderes da sociedade”, Protógenes se mostrava cada vez mais à vontade no papel de político. Para o delegado a origem da corrupção vem do desequilíbrio entre o público e o privado, da necessidade do ser humano de ter ao invés de ser. Segundo Protógenes, o Estado ajuda a promover a corrupção no país, mantendo o mesmo sistema de baixos salários e de exploração da época do reinado.

O delegado diz que quando as pessoas pensam no Brasil, parece que a palavra corrupção acaba por se tornar um adjetivo para o país e ironiza: “No Brasil pode tudo, basta ser discreto”. Protógenes contou que ficou surpreso quando tomou conhecimento sobre um bairro em São Paulo em que os moradores deram o nome de “Cracolândia”. Como o próprio nome diz, a rota da venda de drogas, como o “crack”. Ele disse que desconhece a existência de algo parecido em Joinville e também não arrisca a falar sobre os líderes políticos da cidade, mas avisa a população para que fiquem atentos e lutem pelos seus direitos: “Abram os olhos, abram os olhos. Salvem sua cidade enquanto é tempo”.

Protógenes também se declarou favorável à luta dos estudantes pelo passe livre no transporte coletivo em Joinville e criticou a atuação das autoridades do Mato Grosso do Sul contra os acadêmicos que lutam pelo mesmo objetivo.

Por Jaqueline de Mello.

O que você acha? Prótegenes se candidata em 2010?
E você, votaria em Protógenes?

Um comentário:

  1. Sendo alguém que se atreve a fazer uma citação indireta de Hegel não me espanta que possa vir a integrar o quadro dos "representantes" do povo no Estado...

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