sábado, 18 de julho de 2009

Quem decide:Maldade ou bondade?

Morre um “astro” e tudo se sabe sobre ele, tentam desvendar a causa de sua morte, seu corpo não mais o pertence, agora é "propriedade" dos legistas, do governo americano, dos fãs, dos jornalistas, de todos, menos dele mesmo. Seu enterro parece nunca acontecer. Quando vivo, criaram-se boatos sobre sua vida. O homem negro que não queria ser negro, o homem negro que ficara branco e fora chamado de alienígena pela imprensa, o homem negro-branco que foi taxado como irresponsável, por segurar o filho, de poucos meses sobre a sacada de um prédio. O astro da música pop que gostava de "criancinhas" e fora acusado de pedofilia. O garoto prodígio que liderava os Jackson Five, cresceu e se tornou o maior artista da música pop. O garoto que trabalhava como adulto quando criança e que agia como criança quando adulto, diz a mídia. A morte chega e ao invés de dizer adeus ao astro pop, prolongam sua morte-vida. Sim, porque apesar de morto, há doze dias, falam mesmo, sobre sua vida. O remorso vem a tona. A imprensa sente-se culpada por tê-lo levado as alturas e o derrubado? A imprensa acredita ser a causadora da maioria dos problemas sócio-psiólógicos do astro? Não? Então, qual seria o motivo de uma semana de homenagens a Michael? O garoto que agora, após morto, revelam que os boatos, eram apenas boatos. Michael não era branco porque queria ser branco e chateava-se quando as pessoas o criticavam por estar branco. "Eu tenho uma doença, a doença me deixa assim, fico muito magoado quando as pessoas dizem que não quero ser o que sou"...
Agora, dúvidas sobre seu amor por crianças, ou melhor, sobre a suspeita de pedofilia aparecem. Agora, todos os seus atos que antes eram irresponsáveis ou infantis, são justificados. Afinal, ele não teve um bom pai. Acredito que não teve bons irmãos também. E Deus sabe se ao menos amor materno o garoto tivera. Quem ficará com a herança e quem herdará as dívidas? Quem ficará com as crianças? É, isso é mesmo um problema, um problema solucionado da seguinte forma: as dívidas são pagas com um simples leilão. O leilão de uma luva do Jackson pagaria todas as dívidas do cantor. Então, será que o ídolo pop deixou tantas dívidas assim? “Ele era o melhor pai do mundo”, diz a garota. “Papai eu te amo”. E logo a irmã consola a sobrinha abandonada. Os Jackson disputam a atenção da mídia e o controle das finanças. A compaixão no rosto da irmã do ídolo pop era quase inexistente. Nunca julgue alguém sem ter absoluta certeza, dizem. Mas a típica pose de tia bondosa, que puxa a sobrinha para sua direção na frente de milhões de pessoas, entre elas fotógrafos e jornalistas de várias partes do mundo, é pelo menos duvidosa. Não se pode esquecer que a irmão de Michael também é uma artista.
Perguntas e mais perguntas: quem ficará com a guarda das crianças? Quem herdará a Terra do Nunca? E o corpo de cantor onde foi enterrado? Onde estão seus órgãos. Pobre Michel, injustiçado quando vivo pelos que mais amava e explorado quando morto por essas mesmas pessoas.
Não devemos julgar, não, mas a imprensa julga. Pessoas se tornam boas quando os “cabeças” da mídia acreditam que devem ser boas e se tornam más, quando eles decidem isso também. Criam dúvidas, formam opiniões. Apresentam um Michael anjo, e um Michael zumbi e tudo o que o telespectador, ou qualquer cidadão precisa fazer é escolher. Mostramos os fatos, dizem.
E a fúria da população se volta contra os Jackson. “Maldito seja o pai”. “Pobre Michael, teve uma infância difícil, maltratado pelo pai e irmãos”. Talvez, mas teve uma vida adulta difícil também, explorado pela imprensa. Julgado por suas ações, e tendo a mídia como seu carrasco, ditando o que é certo ou errado. Liberdade para Michael? Chance de explicar suas atitudes? Ele não precisava de oportunidades, ele era público e sendo público, temos o direito sobre sua vida e morte. Contudo se esquecem que antes de ser um ídolo, Michael era apenas um garoto afro americano, preso em um corpo branco por uma doença. E antes de ser um garoto, era humano.

Por Jaqueline de Mello

Um comentário:

  1. O monstro é uma máquina que consegue transformar folhas em veiculadores de sinais conceituais que valoram nossa existência abstrata. O valor. Sim, é o problema. A imprensa confere valor. Que valor? O valor da lei: a REGULARIDADE! O sempre-assim-será da vida alheia.

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